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Vamos aprender com a Ponte.
Sou educadora que defende a educação pela consciência, pela
participação, pela partilha, pela convivência, pela sabedoria de que o meu direito termina quando
começa o direito do outro.
Para que tudo acima citado seja introjetado positivamente no
cotidiano do indivíduo é necessário que este tenha não só possibilidades de
construir e conquistar sua independência como também ter oportunidades de
exercer seus direitos e deveres.
Quando digo que a Escola da Ponte é um exemplo para Brasil,
Portugal e educadores do século XXI seguirem me refiro ao fato de ter ido
visitar escolas públicas de educação fundamental em Portugal onde os alunos de
mau comportamento são condenados a limpar o pátio.
Este é um exemplo de educação pelo castigo e humilhação.
A pessoa humilhada pode desenvolver um
sistema de NÂO SENTIR ou NÂO PENSAR e afasta a mudança comportamental.
Pátio é lugar de não sujar e se sujo for, deve-se ter uma
comissão DE ALUNOS para limpá-lo apenas para que todos desfrutem de um pátio
limpo; apenas porque é necessário haver alguém que o limpe e não para castigar
ou humilhar alguém pois não há nada de humilhante ou castigador em efetuar
limpezas.
Quando se institui o castigo de limpar o pátio para aqueles
que têm mau comportamento em sala de aula, estamos provocando várias
conseqüências, provavelmente na contramão da autonomia, no grupo social.
Vou citá-las
enumerando-as com letras, pois não há uma primeira e uma última e muito menos
uma mais grave e outra menos grave e necessariamente nem todas acontecem com
todos:
a)Mandar
os maus comportados limpar o pátio é um castigo que não é por reciprocidade,
isto quer dizer, não há uma conseqüência lógica entre causa e efeito. Não foi
quem sujou que tem a limpar e sim quem se comporta mal.
b)
Mandar os maus comportados limpar o pátio é um castigo que possibilita ao que
se comporta mal em sala de aula apenas aprende a se comportar mal com mais
malícia ou malandragem de maneira a não se deixar ser flagrado, pois se assim o
for irá receber um castigo de limpar a sujeira dos outros.
c)Se
instala no grupo social o preconceito de que fazer a limpeza é um castigo que
merece as pessoas más enquanto na realidade limpar a sujeira é um ato de
higiene necessário em todas as atividades humanas.
d)Desvincula
o grupo que suja da obrigação de manter limpo seu lugar de lazer ou meio
ambiente estimulando a irresponsabilidade.
e)Estimula
o grupo que suja a sujar mais pois assim aqueles que lhe atrapalham as aulas
serão também atrapalhados por eles. Estimula a vingança e a provocação.
f)Os
alunos condenados a limpar, o farão apenas e somente sobre o efeito da
autoridade e do medo de um castigo maior e não sentem prazer em fazê-lo.
Tratando-se de ambiente educador a atividade de limpar seu ambiente deve ser
prazerosa uma vez que higiene é saúde e saúde é vida e preservar a vida é
importante.
Por estas e por outras razões NOTA ZERO A QUEM DÁ LIMPEZA
COMO CASTIGO E NOTA DEZ para quem, como a ESCOLA DA PONTE, institui comitês de
responsabilidade da limpeza que organiza campanhas de limpeza, controla as peças dos jogos entre outras
atividades.
NOTA ZERO A QUEM EDUCA PELO CASTIGO SEM RECIPROCIDADE.
NOTA DEZ PARA A ESCOLA DA PONTE QUE CASTIGA POR
RECIPROCIDADE AQUELE QUE SE ATRASA. Se um aluno na Ponte chega atrasado a
alguma atividade, permanece aquele exato período de tempo que se atrasou, sem
ir ao pátio ou ao intervalo, para se ocupar dos estudos no período em que se
furtou deles por atraso. Isto é
reciprocidade.
Na Escola da Ponte, o ir e vir com
liberdade de escolha é uma prática do respeito e da responsabilidade que cada
aluno vivencia na construção de um ambiente organizado.